SAÍDA PARA PIQUENIQUE
Era um tempo em que julgava que as tardes de verão cabiam inteiras na fundura dos teus olhos. E a tua boca era a fresca fonte de todas as canções que o vento desconhecia. Oh, por quantos dias aí não matei a sede lancinante? Nessa soleira donde simples ria a alma vadia, irmã das árvores e dos pássaros de solidão azul?
Um imenso sorriso no começo de cada trilho regando papoilas e cardos, afagando pedras e espinhos que nunca conheceram o peso dum pomo, curando a muda dor da terra como quem abraça o breve terror duma criança de joelho ferido.
Num alegre balanço de flor entregue ao vento, uma cesta sem sonhos pendia das mãos limpas de hesitações. Nela, apenas o pão cozido no ventre da estação, o vinho que regaria as horas por nascer adormecendo num conforto de grão ainda no silêncio da espiga – e todos os frutos redondos que a manhã de linho, na sua maternal generosidade, desejou oferecer.